quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ficou claro ao despertar,
um olhar de linhas,
não daqueles
que vez ou outra,
eu manejava em agulhas,
mas outro que me
abraçava o pescoço.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nau frágil

A minha sina é de naufrágio,
 fiz de ócio afundar.
A cada golfo, península, nova ilha
reconstruía embarcação,
fiz de ofício o concerto, o reparo.
Tornar novo, não tornava,
Apenas remediava.
Num meio desastre,
afoguei em terra firme:
areal da ilha fria
onde era noite todo dia.
O chão pálido, me acolhia;
o céu de gangrena, moradia
de corpos alados: humanos de cera voavam
com asas roubadas de aves em raridade.
O  vôo torto de rasantes,
a penumbra constante,
perturbava meu trabalho.
A embarcação renascia,
mas estava perdida
uma fatia de barco.
Mergulhei até a pele embranquecer,
até criar brânquias.
Fincado estava o fragmento
no infinito fundo,
feito escalibur de netuno.
Minha força não bastava,
mas antes o sacrifício à tragédia
de quem falta com ofício.
Nas minhas mãos,
o pedaço de barco,
que do mundo de águas,
furou o fundo
e do buraco aberto,
fugiu a luz,
luz tanta que não se estancava.
Peguei o que procurava,
voltei à superfície em disparada
a tempo de ver o dia,
que se construía
derretendo a cera dos seres,
fazendo cair as penas
(já não era preciso penar).
O temporal de pluma
estendeu um tapete de cor,
espalhou-se em mim a certeza de ficar,
de ali me fincar em temporada finita,
minha primeira folga de naufragar.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Volta

Novo dia de coágulo,
eterno vide verso.
Caem linhas do esquadro,
cada ponto, duas retas;
do traçado, uma cerca;
novo plano, muito ângulo.
minha testa contra o vértice
que aprendo a obedecer.
Sem levante, fico as voltas
como um bicho em movimento
constante circular.
De animal, só a tração;
de mim, a ironia;
de quem todos dias
procura dar a meia volta
e à volta e meia quer voltar.
Reclamo a roda, viva ou morta.
No compasso da vertigem,
Tropeço no bloqueio
E caio fora do cercado.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Desonra

Não há prosa que chegue
para seu alfabeto de flechas,
cada linha vazia
se curva num arco,
rimador em pele de arqueiro
mira o pé da letra,
não fere o tronco,
acerta o fruto,
maldito fruto: a palavra
que desonrado sangra.
Carnes rijas, fortaleza seca,
sem sementes, reage, incisivo,
mostrando os dentes,
treme em estalos, esforço vão:
perece no galho e ninguém colhe,
morre de capricho, de engano, sem razão.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

hematoma

o dia é uma quina de ferro;
eu, uma enorme perna;
a rotina, a dor desse choque.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Parte


A memória rabisca
um arcabouço de vida
meu coração:
sua embarcação, apita.
A hora é de partir,
átrios se apartam,
simulam o trágico.
O adeus é hemorrágico.
Quanto ao músculo
o prefiro em fatias
do que  fadigado
fadado à medida do pulso,
assado nas brasas do mundo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Escapes

A palavra que cuspo me devora
A ideia que culpo me doutrina
O pensamento que afogo me navega
A imagem que afago me dissipa
A frase falha facilita
O final arbitrário 
A maldição finita
Dos dias sem calendário
Da paz que me habita
Tudo finda, deserta, escapa
Exceto a fome da palavra.