quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ficou claro ao despertar,
um olhar de linhas,
não daqueles
que vez ou outra,
eu manejava em agulhas,
mas outro que me
abraçava o pescoço.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nau frágil

A minha sina é de naufrágio,
 fiz de ócio afundar.
A cada golfo, península, nova ilha
reconstruía embarcação,
fiz de ofício o concerto, o reparo.
Tornar novo, não tornava,
Apenas remediava.
Num meio desastre,
afoguei em terra firme:
areal da ilha fria
onde era noite todo dia.
O chão pálido, me acolhia;
o céu de gangrena, moradia
de corpos alados: humanos de cera voavam
com asas roubadas de aves em raridade.
O  vôo torto de rasantes,
a penumbra constante,
perturbava meu trabalho.
A embarcação renascia,
mas estava perdida
uma fatia de barco.
Mergulhei até a pele embranquecer,
até criar brânquias.
Fincado estava o fragmento
no infinito fundo,
feito escalibur de netuno.
Minha força não bastava,
mas antes o sacrifício à tragédia
de quem falta com ofício.
Nas minhas mãos,
o pedaço de barco,
que do mundo de águas,
furou o fundo
e do buraco aberto,
fugiu a luz,
luz tanta que não se estancava.
Peguei o que procurava,
voltei à superfície em disparada
a tempo de ver o dia,
que se construía
derretendo a cera dos seres,
fazendo cair as penas
(já não era preciso penar).
O temporal de pluma
estendeu um tapete de cor,
espalhou-se em mim a certeza de ficar,
de ali me fincar em temporada finita,
minha primeira folga de naufragar.